Sabores de São Francisco
abril 4, 2010
São Francisco, na Califórnia, é a cidade maravilhosa dos Estados Unidos e uma das mais legais do mundo – não é a toa ter uma canção chamada ‘I left my heart in San Francisco‘. Por conta do trabalho, na área de tecnologia, tive a oportunidade de visitá-la algumas vezes e a mais recente tinha sido em maio de 2006, época em que o Braun Café foi criado.
No fim de março, o dever e a Autodesk me chamaram de volta. A jornada foi longa (26 horas só dentro do avião) e a estada curta (cheguei na tarde de quarta, trabalhei na quinta e voltei para o aeroporto às 13h da sexta). Mesmo na correria deu para matar a saudade do vento gelado do Pacífico – que te obriga a usar agasalho mesmo em alto verão – de sabores característicos como a sopa de mariscos (Clam Chowder) e a carne de caranguejo no Fisherman´s Wharf e do hambúrguer bom e barato do Red´s Java.
Desta vez também deu tempo de descobrir dois lugares muito bons com preços razoáveis: o italiano Il Fornaio e o chinês R&G Lounge, em Chinatown. Este último foi recomendado pelo Anthony Bourdain em um episódio sensacional de ‘No Reservations’ em São Francisco – fiquei feliz da vida ao ver que o ‘Tony’ adorou o Red´s Java, no fim do programa.
Para começar a sentir o que torna São Francisco tão especial, sua primeira parada deve ser o Pier 39, no Fisherman´s Wharf. Lá você encontra toda uma sorte de lojas de souvenir e uma variedade de restaurantes especializados em frutos do mar.
Quando pisei na cidade pela primeira vez, em 1999, fui jantar por lá, na Crab House e me encantei pelo ‘king crab’. O gigantesco caranguejo centola cozido vinha acompanhando de pão caseiro e molho de manteiga. Depois de começar a me lambuzar tentando manejar o utensílio para quebrar as patonas do caranguejo entendi porque me ofereceram um babador.
Desta vez, ao lado de Claudiney, querido jornalista da velha guarda da tecnologia e ótimo companheiro gastronômico, fomos ao Neptune´s Palace, no Pier 39. O clam chowder (US$ 5) foi o que mais valeu a pena – ainda prefiro a Crab House.
Depois do almoço dê uma parada na Chocolate Heaven e você nem precisa ir até a Ghirardelli, tradicional loja de chocolates da cidade, após o Pier 39. A variedade de chocolates da Heaven é de enlouquecer.
Se o orçamento estiver apertado, ande uns dois quarteirões para frente, vá até as barracas que ficam em frente aos restaurantes, perto da padaria Boudin Bakery (que diverte os turistas com seus pães em forma de caranguejo lagosta, tartaruga, jacaré etc.). Escolha uma barraca que tenha mesa do lado, peça um king crab cozido na hora, uma latinha de cerveja (embrulhada do saco de pão) e seja feliz.

Salada de espinafre, queijo pecorino, bacon, cogumelos grelhados e molho balsâmico quente do Il Fornaio
No jantar, Claudiney queria ir a um italiano e fez a aposta certa. O Il Fornaio é um lugar extremamente agradável, com ótima comida e preços bacanas. Além disso, a carta de vinhos do lugar foi premiada pela revista Wine Spectator em 2009.
Provei um bom minestrone de entrada (faltou um pouco de sal) e uma saladinha como principal: espinafre fresco, pecorino, bacon, cogumelos grelhados e molho de balsâmico quente (nada light e muito saborosa). Meu colega optou pelo fetuccine verde (massa da casa) com molho pomodoro que parecia apetitoso. Para esquentar optamos por um Chianti Clássico Ruffino Santedame 2006 (US$ 36) – ótima relação custo benefício entre as diversas opções de rótulos e preços da carta.
Na saída descobrimos que o Il Fornaio tem um café logo na entrada, que funciona durante o dia, servindo pães e cookies, que pareciam incríveis. Já deu saudade do lugar.
A culinária oriental é muito bem representada em São Francisco. E a dica do jantar, no dia seguinte, veio do Bourdain. Quando falei do martini de lichia do R&G Lounge, Claudiney logo topou o jantar em Chinatown.
O R&G é um autêntico chinês frequentado basicamente pelos locais. Difícil ver um ocidental entre milhares de clientes que se acomodam nos três grandes salões do lugar. Sua especialidade é o caranguejo centola empanado (sim, é possível deixar algo gostoso mais gorduroso e… gostoso), mas fizemos outras opções. Pedi um caldo de camarão, cogumelo e melão, sim o ‘chuchu do mundo das frutas’.
A melhor pedida veio do Claudiney: um prato com uns doze camarões bem graúdos, em um molho especial (algo parecido com maionese, mas só sei que estava ótimo) acompanhando de nozes caramelizadas. Uma combinação diferente e deliciosa por apenas 16 dólares.
Para acompanhar o camarão, pedimos um arroz ‘tipo shop suei’ com pedacinhos de kani, camarão e legumes, além do pato de pequim servido com molho teriaki, cebolinha e uma massa chinesa para você montar seu sanduíche. Estava gostoso, mas seria melhor se a carne estivesse desfiada e não em pedaços. Depois do banquete e de um bule de chá de jasmim (cortesia), saí de Chinatown parecendo o ‘kung-fu panda’, mas valeu a pena.
A despedida rolou no Red´s Java. Antes de ir para o aeroporto passei no IDG de São Francisco para dar um alô e o simpático James Niccolai, me levou para um café.
O Red´s é um lugar sem frescuras, muito barato e que ainda tem mesas no pier para você degustar seu sanduba feito em um pão meio francês meio italiano, tomando um sol e olhando o outro lado da Bay Bridge.
Como chegamos depois das 11h, o lugar não estava mais servindo café-da-manhã. Perdi as panquecas e o ‘pão com ovo’, mas resolvemos encarar cheeseburguer, fritas e Coca-Cola, para ‘não perdermos a tradição’, iniciada em 2002, com o Bob McMillan, na visita anterior ao IDG. Saí de lá contente, direto para o aeroporto, cantando ‘I left my diet in San Francisco’. E esta foi mais uma despedida da cidade mais bacana do mundo.
I left my clam in San Francisco
outubro 8, 2008
Quanto tive a oportunidade de ir a São Francisco, na Califórnia, na maioria das vezes a trabalho, nunca deixei de provar o caranguejo “King Crab” cozido na hora, com um pãozinho italiano e uma cervejinha perto do Pier 39 do Fisherman´s Wharf.
O melhor lugar é a área das barraquinhas, onde você pode pedir para experimentar antes de escolher entre os diversos e convidativos petiscos de frutos do mar (patinhas e bolinhos de caranguejo, coquetéis de camarão etc.). A dica da prova é da Dani Moreira, que esteve por lá há pouco tempo para degustar seu favorito do local: o clam chowder.
Na tradução literal, clam chowder é uma sopa espessa de moluscos. O nome “chowder” vem do francês “chaudiere”, que significa panela ou cardeirão. Na tradução emocional, o clam chowder é uma sopa amiga, quentinha e gostosa que combina moluscos, peixes ou frutos do mar com batatas, cebolas, leite e temperos. O cremoso clam chowder no estilo de New England é servido no pão italiano. Ainda existem duas variações do chowder: o Manhattan, com base de tomate, e o Rhode Island, com um caldo mais fino (um brodo).
Na volta da viagem, a Dani me presentou com um souvenir especial: uma latinha de clam chowder do restaurante Guardino´s, um dos mais tradicionais da área das barraquinhas – desde 1908. Estive lá em 2002 e comi um caranguejo delicioso. Agora diversificaram o negócio. Mantiveram a barraquinha e, no lugar de restaurante, fizeram uma loja de souvenirs. A receita funciona. Na Boudin Bakery, que faz pães em formato de caranguejo e lagosta, comprei um caranguejo de plástico. É só dar corda que ele faz a “dança do caranguejo”.
Há alguns dias fui degustar meu presente. A latinha conta a história do Seu Salvatore Guardino, que deixou a Itália em meados do século 19 em busca de ouro na Califórnia. Acabou apostando nos preciosos frutos do mar, trouxe a ‘famiglia’ e as gerações vêm perpetuando a alegria de milhares de turistas.
Abri a latinha e as lembranças da cidade, que merece a declaração de amor de Louis Armstrong. Bastava colocar na panela, adicionar leite e dissolver devagar, no fogo baixo, mas ‘sem fever’, alertava o rótulo. A consistência é bem firme, então adicionei leite até o ponto que mais me agradou. Montei a mesa, fiz a foto que está nesse toast, e degustei o clam chowder.
Dava pra sentir os diversos pedaços de mariscos, vôngoles e batatas. O sabor, no entanto, era distante dos frutos do mar, mas me trouxe outra boa recordação: uma sopa Campbell´s de letrinhas que tomei quando criança. Foi à luz de velas, na cozinha da minha mãe, na Rua Cotoxó. Estávamos sem energia. Nunca me esqueci daquele jantar.
Chocolate Fudge
Dani Moreira também contou que tomou o melhor sorvete de sua vida no Pier 39. Chocolate Fudge é o sabor. E a casquinha é feita na hora e coberta com chocolate. Seria uma barraquinha do Ghirardelli, o rei dos chocolates da área? Segundo a Dani, dá pra achar o lugar pelo aroma. Ela afirmou, categoricamente, que esse chocolate fudge superou o sorvete de figo que tomou na Itália.