Giro d’Italia: Cerveja artesanal e almoço desconectado
março 10, 2015
Em 14 dias de aventuras pelo Norte da Itália, você come muita massa e bebe muito vinho. É sensacional, claro. Mas na última noite, depois de pirar na megaloja do Eataly, em Milão, e pegar a maior chuva da viagem, dei de cara com um bar da cervejaria Baladin e aí foi só alegria.
Do cardápio, mezzo italiano mezzo alemão, a escolha foi uma porção de apetitosas salsichas variadas (a de cordeiro estava sensacional) com cebola roxa caramelizada e fritas crocantes pra acompanhar. Harmonia perfeita com a Isaac, a cerveja da qual eu não queria me despedir. Depois, descobri que ela é vendida em São Paulo. É cara, mas dá pra matar a saudade, de vez em quando.
No dia seguinte, de malas prontas para ir embora, ainda rolou um passeio na catedral de Milão (belíssimo) e o almoço de despedida no Rifugio del Ghiottone, um restaurante simples e honesto, que recebe os trabalhadores das redondezas. O dono, um senhor alto e simpático, circula pelas mesas conversando com os fregueses e aparece em milhares de fotos enquadradas nas paredes com clientes ilustres, aparentemente famosos locais, que visitam seu restaurante.
Com um menu executivo completo (entrada, principal, sobremesa e café) por 13 euros, o restaurante atrai as pessoas que trabalham na área. E enquanto eu esperava o meu penne com aspargos e tomates (leve e delicioso), observei um comportamento interessante: nas duas mesas com grupos de quatro e cinco pessoas, ao meu lado, nada de celular. Era o intervalo de trabalho e nenhum aparelho estava visível sobre a mesa. Ninguém largou o talher e o bate-papo nem para dar uma espiadinha em algum “whatsapp” da vida.
Bom… guardei meu aparelho na hora e me concentrei no prato, um levissimo penne com molho de aspargos e tomates, e saí de lá levando mais uma importante lição dos italianos sobre apreciar la dolce vita.
Baladin Milano
Via Solferino, 56 (Porta Nuova) – Milão, Itália
Eataly
Piazza XXV Aprile, 10 – Milão, Itália
Il Rifugio del Ghiottone
Viale Monte Grappa, 2 – Milão, Itália
Giro d’Italia: Lições de felicidade em Torino
janeiro 25, 2015
O apartamento mais legal que encontramos pelo Air BnB na viagem à Itália foi o da querida Valentina, na suntuosa Torino. Em um prédio bem antigo, que deve ter uns 200 anos, ela reformou todo o apê com estilo, preservando um belo ladrilho e arcos de tijolos originais. A sala, sem TV, tinha muitos CDs, livros e uma moto antiga, tipo Harley, como decoração.
Na cozinha toda equipada, encontrei diversas receitas com ovos penduradas entre os utensílios e uma mesa para pensar na vida. O quadro em frente, trazia a reflexão em um cartãozinho vermelho: “Pelo menos uma hora por dia, você precisa ser feliz”. Segui o conselho e preparei minha massa favorita: spaghetti à carbonara, com ovos e pancetta comprados no mercadinho do bairro.
Logo ao lado do edifício estava o Mercato di Porta Palazzo, um misto de feira da pechincha e feira livre enorme, onde vi uns cogumelos tão grandes que pareciam enfeites de jardim. Pena que choveu muito, todos os dias, e não deu pra aproveitar muita coisa da área, que era tipo um Brás de Torino.
Em Torino também fiz minha primeira visita a uma loja da rede Eataly, um supermercado da gastronomia italiana, que deve chegar a São Paulo este ano, com uma loja na região do Itaim. Imagina escolher uma massa nesse lugar? É de enlouquecer.
Depois de pirar no Eataly, fiz um jantar para dois: filé com spaghetti all’arrabbiata, pão caseiro de centeio e vinhos do Piemonte para acompanhar (meia garrafa de Gavi, delicioso branco da região, e meia de Dolcetto D’Alba, da cidade de Treiso). Também teve entrada com abobrinha redonda, que foi refogada no azeite e servida com parmesão regiano e pimenta moída na hora. Ficou show.
Slow Food
Aproveitamos a viagem para conhecer a cidade de Bra, na província de Cuneo, onde nasceu o movimento Slow Food. E foi lá, na modesta Osteria Del Chiosco ao lado da estação de trem, que provei a melhor massa da viagem: o ravioli “plin”.
O dono do café beliscava o braço dizendo: “Plin! Assim… entende?”. Cheguei a achar que era recheado com pele ou pururuca, mas o belisco é só um jeito de fechar o ravioli com recheio de vitelo, servido na manteiga com sálvia.
Simples, perfeito e barato (7 euros), com uma taça de vinho tinto, o “plin” foi uma beliscada pra lembrar daquela mensagem da cozinha da Valentina. Feliz 2015!
Eataly
Via Nizza, 230/14, 10126 – Torino, Itália
Tel.: +39 011 1950 6801
L’Osteria del Chiosco
Piazza Roma, 35 – Bra, Itália
Tel.: +39 0172 41 2181
Mercato di Porta Palazzo
Piazza della Repubblica, 10.152 – Torino, Itália
Giro d’Italia: Se essa rua de Bologna fosse minha…
dezembro 26, 2014
Quando a chuva deu uma trégua fomos passear pelo centro histórico de Bologna, na Piazza del Netuno, na Biblioteca Salaborsa (lugar belíssimo onde se podem ver escavações de ruínas do século VII a.C. pelo piso de vidro) e então resolvemos espiar uma rua estreita do outro lado praça: “Via Pescherie Vecchie”.
O cenário era encantador. Bancas de verduras e legumes coloridos de um lado, mesinhas com taças de vinho e antepastos do outro e pessoas circulando em uma sequência de antigos empórios e salumerias com o melhor que a Emilia Romagna tem a oferecer. Um verdadeiro museu gastronômico a céu aberto para encher os olhos e a boca d’agua.
É nesta rua que se encontra o Mercato di Mezzo, o mais antigo da cidade. O galpão da era medieval que fazia parte do antigo mercado de Bologna, foi reformado e reinaugurado pela rede Eataly, em abril deste ano. No primeiro andar você encontra diversos fornecedores de comidinhas, bebidas e guloseimas a preços amigáveis para degustar em mesas comunitárias.
Recomendo os petiscos do mar da Pescheria del Pavaglione, onde provei o espetinho de lula com camarão e o sanduba de polvo e escarola em pão preto feito com tinta de lula. Foi lá que descobri a Isaac, da cervejaria artesanal Baladin, e me apaixonei pra sempre.
Na saída do mercado vale dar uma espiada na vizinha Salumeria Simoni. Dá vontade de ficar lá admirando os salames, mortadelas, prosciuttos e queijos lindamente expostos atrás do balcão da movimentada loja de esquina.

Clientes na fila da Salumeria Simoni. Vale apreciar a paisagem de salames e prosciuttos atrás do balcão
E se quiser comprar algo bem tradicional para fazer na sua cozinha de viagem, prove o tortellini fresco, que você encontra em todos os empórios, mas vale comparar preços. Comprei 250 gramas, para duas pessoas, por 5 euros. Os bolonheses o preparam cozido no caldo de galinha, mas resolvi improvisar uma versão na manteiga com parmesão. Que delícia.
Outra dica para quem é chegado nas compras gastronômicas é o Mercato delle Erbe, que também é próximo à Piazza Netuno. Vale caminhar tranquilamente por entre as bancas de frutas e verduras, cercadas de preciosidades à venda nos empórios.
Mercato di Mezzo
Via Pescherie Vecchie, 14 – Bologna, Itália
+39 051 227798
www.facebook.com/pages/Mercato-di-Mezzo/664060596993131
Mercato delle Erbe
Via Ugo Bassi, 23 – Bologna, Itália
+39 051 230186
www.mercatodelleerbe.it/
Salumeria Simoni
Via Drapperie, 5/2a – Bologna, Itália
http://www.salumeriasimoni.it/
Giro d’Italia: molhos secretos da mamma em Bologna
novembro 30, 2014
Quando cheguei em Bologna, a primeira coisa que eu queria saber era onde provar um bom ragù alla bolognese. Foi exatamente o que perguntei à Dona Edda, a simpática senhora italiana proprietária da casinha onde ficamos em Bologna. E ela respondeu de pronto: “O meu! Eu faço! Vocês também gostam de molho de prosciutto e cippolla? Vou trazer mais tarde para vocês”. Fiquei meio sem saber o que dizer. Achei que não tinha entendido direito, mas era isso mesmo. Eu ia experimentar os verdadeiros molho da mamma.
Naquela noite, acabamos indo à Osteria Dell’Orsa, uma antiga taberna no centro histórico, onde circulam turistas e estudantes da universidade mais antiga do mundo. Chegamos cedo (eles não aceitam reservas), famintos e abrimos os trabalhos da cozinha, que oferece pratos quentes e sanduíches com ótimos preços.
Pedimos um bom tinto da casa e uma porção deliciosa de queijo tipo cottage e tigelle, pãezinhos redondos quentinhos tradicionais da Emilia Romagna. Na sequência, um belo prato de tagliarini com o famoso ragù. O molho bem consistente e saboroso já vem misturado à massa caseira, tipo macarronada. Alegria.
Voltamos para casa felizes da vida, sem saber que o melhor estava por vir. Na porta, a Dona Edda deixou uma sacola com a nossa “marmitinha”: um pote de ragu à bolognesa, outro com molho de prosciutto, uma Tupperware grande cheia de tagliarini fresco e um potinho de queijo ralado. É para amar essa pessoa per sempre.
Nem preciso dizer que o molho à bolonhesa da Dona Edda era maravilhoso (suave e equilibrado) e muito melhor do que o da osteria, mas a grande surpresa foi o sensacional molho de presunto cru, cebola e tomatinhos. Perfeito com o levíssimo tagliarini fresco. A porção rendeu duas refeições e agradecimentos sem fim para a Dona Edda. Só faltou ela me dar a receita que eu pedi duas vezes, mas imagino que uma italiana que se orgulha de sua comida também prefira guardar alguns segredos.
Osteria dell`Orsa
Via Mentana, 1 – Bologna
Tel.: + 39 051 231 576
Giro d’Italia: Vinho, drink e jantar em Verona
novembro 20, 2014
Itália, amore mio. Difícil não se apaixonar por uma terra que cultiva tão bem a tradição de seus produtos e a celebração de seus sabores. Felizmente, três anos depois do amor à primeira visita, o Braun Café fez um giro de 15 dias pelo Norte do país. Nos próximos posts, você encontrará dicas preciosas desta viagem pela gastronomia emocional italiana. Veja mais fotos e dicas no Flickr do Braun Café. Andiamo!
Começamos pela romântica Verona, onde osterias e restaurantes se revelam aos amantes da boa comida entre vielas e becos. Em um deles está a Antica Bottega Del Vino, aberta em 1890 a poucos quarteirões da Casa di Giulieta. A carta (lousa) de vinhos em taça e os petiscos (cichetti) no balcão merecem uma parada. Prove uma apetitosa e picante porção de coxinhas de codorna acompanhada de uma taça de vinho branco Lugana por 5 euros.
Vale esticar o happy hour no Frizzante Lab e se perder na respeitável carta de coquetéis do local, que vai dos dry martinis aos moleculares. Se quiser pegar leve recomendo uma taça de Romeu e Julieta, com prosecco, licor de framboesa e gelo. Aos mais animados, a dica é o “Corpse Reviver #2” com gim, vermute e suco de limão siciliano. Os preços dos drinks (7 euros, em média) também são animadores.
O laboratório rendeu uma segunda visita. Dos moleculares provei um drink ‘lúdico’ de prosecco e ‘pérolas’ de licor que estouravam na boca, primeiro frutadas e depois amargas. Desta vez, além de batatinhas fritas, a casa ofereceu uma porção com salame picante, queijo de cabra e pãezinhos. Adorável.
Para o jantar, a duas quadras do Frizzante, descobrimos o Tre Risotti, com boa comida local, atendimento simpático e preços acessíveis. Os pratos custavam de 7 a 10 euros, em média, sendo que o mais caro, um mix de carnes grelhadas para uma pessoa (faminta) custava 10 euros.
O Tre Risotti também mereceu bis. Na primeira vez provei uma tradicional tagliata di manzo (filé mignon ao ponto cortado em tiras com parmesão e rúcula fresca), mas o risoto do dia, de abóbora com gorgonzola, como o nome do restaurante já indica, foi o destaque. Simples, delicioso e inesquecível.
Antica Bottega Del Vino – Vicolo Scudo Di Francia, 3 – Verona, Itália Tel.: +39 045 800 4535
Frizzante Lab – Via Marconi, 15 Tel.: +39 388 436 0548
Ristorante Tre Risotti – Via Poloni, 15 – Verona, Itália Tel.: +39 045 594 408