Al Povero Pesce

agosto 24, 2019

Restaurante de frutos do mar em Belvedere Marítimo na costa calabresa.

Se eu fosse te indicar apenas um restaurante na Calábria com certeza seria o Al Povero Pesce, em Belvedere Marittimo, uma das encantadoras cidades do litoral calabrês.

Charmoso e muito bem localizado em frente à orla, o restaurante serve pratos com frutos do mar muito bem preparados. Vale começar com o antepasto “quente e frio”, que é praticamente um rodízio de entradas.

Entrada “quente e frio” começa com salmão, peixe espada e aliche ao vinagrete.

Entre os frios estão fatias bem finas de peixes ao vinagrete (salmão, peixe espada e aliche) para comer com os pãezinhos macios da casa. Entre os quentes, um misto de lulas e peixe fritos e um inacreditável polvo grelhado com molho de vinagre balsâmico.

Polvo ao vinagrete no ‘rodízio’ de entradas.

Aliás, um detalhe sobre a “glassa” de aceto balsâmico. No primeiro restaurante que conheci logo ao chegar à Calábria, o Antigua Ristorante Pizzeria, provei uma porção de lulas à dorê e um fiozinho do molho de aceto concentrado, doce e ácido que ficou incrível. Esse molho você encontra em empórios por aqui. Faça o teste.

Polvo grelhado com molho de aceto balsâmico concentrado.

Para brindar, um vinho branco calabrês de-lí-cia chamado Timpa del Príncipe, da vinícola Ferrocinto. Vale visitar o site e dar só uma checada no visual da vinícola.

Tagliarini com molho de lagosta do Al Povero Pesce.

Depois das entradas chegou a hora do primo piatto, que no meu caso foi o principal: tagliarini caseiro com molho de lagosta. Esse vai ficar guardado com carinho na minha memória gustativa, ou melhor no meu “Guloogle”.

Provei ainda uma taça do rosé da Ferroncinto – gostoso, mas o branco superou – uns moranguinhos de sobremesa e a conta, que ficou em 25 euros por pessoa. Considerando a qualidade da refeição vejo que valeu muito a pena.

Recomendo também um passeio pela bela cidade marítima depois da refeição e uma passada no Art Cafè Bar pertinho da estação de trem. Minha dica é experimentar o Café Ginseng, mais suave com infusão de ginseng que virou moda na Itália. É uma ótima opção ao expresso curto e fortíssimo. A Giula, dona do café, é uma simpatia e ainda prepara um impecável gin tônica com belisquetes grátis. Salute!

Publicidade

Tiramisù de Limoncello

julho 28, 2019

O limão que a gente chama de siciliano é muito presente no sul da Itália. Ao pegar a sinuosa estradinha para Amalfi, o aroma vindo dos limoeiros indica que você está na direção certa.

Os limões continuam te acompanhando pelas ruas da cidade como tema das lindas cerâmicas da região, de bordados, sachês e outras lembrancinhas. Da mesma região vem o popular Limoncello, um licor bem docinho que não é minha praia, mas tem gente que ama. Mesmo assim, a curiosidade não me impediu de provar um tiramisù de limoncello, sugerido pelo garçom do restaurante La Galea.

Os “fritos” do mar de entrada são um clássico da área e abriram muito bem o apetite com o vinho branco da casa para os principais: fusilli pescatora com muitos frutos do mar e ravioli de ricota ao molho de tomatinhos, camarão e rúcula.  

Para fechar o ótimo jantar, um tiramisù, a sobremesa perfeita. Mas aí o garçom sugeriu uma outra versão, um tiramisù de Limoncello. Será? Aí pensei “se um italiano resolve adaptar uma instituição da sua própria confeitaria, não deve ficar ruim, certo?”. Errado. Trocar o café por Limoncello e o chocolate em pó por chocolate branco bem doce não recomendo nem para quem gosta do licor. Já a conta total para duas pessoas saiu salgada (60 euros). Talvez por isso, no lugar de “conto”, me confundo e pedi um “sconto” (desconto).

Tirando a lembrança tropo dolce do jantar, valeu a pena passa a noite de sábado para domingo na cidade, mesmo na primavera ainda gelada. Dá pra ir tranquilamente de trem, parando em Salerno. De lá basta pegar o ônibus  local em frente à estação e curtir a vista espetacular do caminho – segurando bem porque não dá pra acreditar que um busão caiba naquela estrada, sinceramente.

Amalfi é bela, turística e bem cara, então o ideal é reservar sua acomodação com antecedência. No nosso caso foi bem em cima da hora, então o melhor que conseguimos foi uma diária caríssima de 100 euros (ai…) no Dimore De Luca, em um edifício bem antigo na praça principal.  O quarto todo restaurado era bem grande e confortável, mas faltou o café da manhã. Felizmente, logo embaixo do hotel está a pasticceria Andrea Pansa, uma instituição da cidade (desde 1830).

A ancestral da pizza

março 15, 2019

Já ouviu falar em Pinsa Romana? Então guarde esse nome porque é bem provável que essa ancestral da pizza vire febre no Brasil. O motivo? A massa é mais leve, de fácil digestão e tem menos glúten, além de ser uma delícia.

O segredo dessa receita conhecida desde os tempos mais primórdios – citada na Roma antiga pelo poeta Virgílio – é sua massa preparada com 3 diferentes tipos de farinha (arroz, soja e trigo ou então milho, soja e trigo, dependendo da receita), mais água do que a da pizza e em temperatura fria, e mais tempo de fermentação natural (até 72 horas).

Só fui conhecer a pinsa na Itália, e nem foi em Roma. Na verdade estava visitando Diamante, uma linda cidadezinha na região da Calábria, às margens do Mediterrâneo, e fiquei curiosa pra saber o que significava a palavra “pinseria” na fachada de um restaurante. Ao ouvir a explicação da simpática atendente do Ciro’s, il lattaio não pensei duas vezes.

A pinsa, como diz o nome, tem um formato esticado ou oval. Ela é assada em um forno especial entre 350 e 400 graus, enquanto a pizza é geralmente feita em forno à lenha. O cardápio da pinseria tinha uma boa variedade de sabores praticamente iguais ao de uma pizzaria (veja aqui o menu da Ciro’s). A espera foi acompanhada por uma bruschetta de tomatinhos como gentileza da casa.

Na terra da calabresa, recomendo o clássico local com finas fatias de schiacciata picante – um tipo de salame de formato achatado -, azeitonas pretas da região, de sabor potente, e o suave queijo Fior di latte, que os italianos usam nas legítimas margheritas. Sensacional.

Já a Capricciosa – com alcachofras, cogumelos, presunto, azeitonas e o queijo maravilha Fior di latte – estava bem saborosa, mas a calabresa, com o contraste do salame picante, foi imbatível.

Interessante sentir o sabor da massa bem crocante e com um leve toque de milho no final. Se eu provar uma versão com a farinha de arroz por aqui prometo atualizar o post.

O tamanho da pinsa do Ciro’s impressionou. Mesmo com a massa leve e a fome considerável ainda levei uma quentinha pra casa. Legal é que também não pesou no bolso. A conta, com duas pinsas gigantes, uma Coca-Cola e uma taça de vinho, saiu por 23 euros. 🙂

Ciro’s il lattaio – Pinseria
Via Vittorio Emanuela, 135
Diamante, Cosenza (CS) – Itália
https://www.facebook.com/Cirosillattaio/

foto-2

Sede da vinícola Le Marchesine, produtora de Franciacorta, em Brescia, no Norte da Itália.

Os franceses têm Champagne e os italianos têm Franciacorta. O Braun Café resgata aqui a memória de um dia inesquecível na região da Lombardia, no Norte da Itália, onde esse precioso espumante é produzido.

A matriarca da família Baetta, dona Giuliana brinda com um dos champagnes à italiana produzidos na vinícola da família.

A matriarca da família Biatta, dona Giuliana brinda com um dos rótulos de Franciacorta produzidos na vinícola da família.

Em um dia ensolarado de novembro de 2014, lá estava eu pegando 35 minutos de trem de Verona para a província de Brescia, ansiosa para experimentar o famoso Franciacorta, na vinícola Le Marchesine, uma das cinco maiores da região. Quem me falou do vinho foi a querida Fabíola, que me passou o contato do Giuseppe, representante da vinícola por aqui. (Sim! Tem Franciacorta no Brasil. Veja abaixo algumas dicas de locais e preços).*

Um dos rótulos da Le Marchesine. (Foto: Instagram @lemarchesine)

Um dos rótulos da Le Marchesine. (Foto: Instagram @lemarchesine)

Dona Giuliana Biatta e sua família nos receberam carinhosamente na propriedade, que é da família desde 1985, para conhecermos a produção do Franciacorta. O espumante feito com uvas chardonnay, pinot branc e um toque de pinot noir, tem um tempo médio de 18 meses de fermentação em garrafa.

Franciacorta oi inspirado em uma visita à região de Champagne, nos anos 60.

Franciacorta surgiu após uma visita à província de Champagne, nos anos 60.

Os italianos evitam comparações com Champagne, embora a inspiração tenha vindo de lá. Em meados da década de 60, um jovem meio rebelde chamado Mauricio Zanella, foi encaminhado pelo pai, um produtor de vinhos da Brescia, para estudar na França e entrar na linha. Foi lá que o jovem

O deslumbrante Lago de Iseo é uma das atrações turísticas de Brescia.

O deslumbrante Lago de Iseo é uma das atrações turísticas de Brescia.

resolveu fazer uma visita à região de Champagne, se apaixonou e voltou pra casa com uma ideia na cabeça, que se transformou em um dos orgulhos da Itália.

O espumante também tem sua taça, diferente da flûte, criada especificamente para ele. A bebida é suave e vibrante, com delicadas ‘bolhinhas’ e um leve aroma de fermento… de alegria… de Franciacorta.

Almoço no Ristorante Il Paiolo, em Iseo. Embutidos artesanais e aspargos à milanesa.

Ristorante Il Paiolo, em Iseo, serve deliciosos aspargos à milanesa.

Após a visita à vinícola, fomos almoçar no Ristorante Il Paiolo na pequenina cidade de Iseo, onde também é servido o Franciacorta da família. Fico emocionada de lembrar dos embutidos e dos aspargos à milanesa desse lugar.

Piazza del Porto é um dos vilarejos ao redor do Lago de Iseo.

Piazza del Porto é um dos vilarejos ao redor do Lago de Iseo.

Iseo é uma das pequenas cidades que circundam o deslumbrante Lago de Iseo, atração turística de Brescia. O lado, que faz divisa entre a Depois do almoço, demos uma volta de carro por todo o lago, parando em alguns pontos para admirar as paisagens dos vilarejos, das montanhas e do pôr do sol de um dia inesquecível. Um brinde aos momentos felizes e inesquecíveis que virão. Feliz 2017!

Onde encontrar:
Os preços do Franciacorta podem variar bastante por fatores como tempo de fermentação em garrafa, safra e tradição da vinícola. Todos têm a Demoninação de Origem Controlada e Garantida (DOCG). Alguns exemplos que encontrei:
Villa Crespia Franciacorta (R$ 108 na Gran Cru)
Le Marchesine Franciacorta Brut (US$ 43 dólares no Duty Free)
Monte Rossa (R$ 180 e R$ 270 no supermercado Saint Marche)
Bellavista Alma Cuvée (R$ 345 na World Wine)
Cuvée Prestige Ca´Del Bosco (R$ 329 na Mistral)

Bar da cervejaria artesanal Baladin, em Milão

Bar da cervejaria artesanal Baladin, em Milão

Em 14 dias de aventuras pelo Norte da Itália, você come muita massa e bebe muito vinho. É sensacional, claro. Mas na última noite, depois de pirar na megaloja do Eataly, em Milão, e pegar a maior chuva da viagem, dei de cara com um bar da cervejaria Baladin e aí foi só alegria.

Do cardápio, mezzo italiano mezzo alemão, a escolha foi uma porção de apetitosas salsichas variadas (a de cordeiro estava sensacional) com cebola roxa caramelizada e fritas crocantes pra acompanhar. Harmonia perfeita com a Isaac, a cerveja da qual eu não queria me despedir. Depois, descobri que ela é vendida em São Paulo. É cara, mas dá pra matar a saudade, de vez em quando.

Favorita: Isaac, a cerveja de trigo frutada (Witbier) da Baladin

Favorita: Isaac, a cerveja de trigo frutada (Witbier) da Baladin

No dia seguinte, de malas prontas para ir embora, ainda rolou um passeio na catedral de Milão (belíssimo) e o almoço de despedida no Rifugio del Ghiottone, um restaurante simples e honesto, que recebe os trabalhadores das redondezas. O dono, um senhor alto e simpático, circula pelas mesas conversando com os fregueses e aparece em milhares de fotos enquadradas nas paredes com clientes ilustres, aparentemente famosos locais, que visitam seu restaurante.

Porção de salsichas  mistas com cebola roxa caramelizada e fritas, no Pub da cervejaria Baladin

Porção de salsichas mistas com cebola roxa caramelizada e fritas, no Pub da cervejaria Baladin

Com um menu executivo completo (entrada, principal, sobremesa e café) por 13 euros, o restaurante atrai as pessoas que trabalham na área. E enquanto eu esperava o meu penne com aspargos e tomates (leve e delicioso), observei um comportamento interessante: nas duas mesas com grupos de quatro e cinco pessoas, ao meu lado, nada de celular. Era o intervalo de trabalho e nenhum aparelho estava visível sobre a mesa. Ninguém largou o talher e o bate-papo nem para dar uma espiadinha em algum “whatsapp” da vida.

Bom… guardei meu aparelho na hora e me concentrei no prato, um levissimo penne com molho de aspargos e tomates, e saí de lá levando mais uma importante lição dos italianos sobre apreciar la dolce vita.

Baladin Milano
Via Solferino, 56 (Porta Nuova) – Milão, Itália

Eataly
Piazza XXV Aprile, 10 – Milão, Itália

Il Rifugio del Ghiottone
Viale Monte Grappa, 2 – Milão, Itália

%d blogueiros gostam disto: